quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Acima de qualquer coisa Capítulo VI (Semanas)

Parece que meu desejo havia sido realizado, mais uma vez me tranquei em meu mundo, evitei o Miguel ao máximo, eu o via e desviava para o outro lado, o problema não era ele e sim eu, não queria de forma alguma me apaixonar, não eu não poderia.
As semanas começaram a passar mais rápido do que eu pudesse ver, eu estava tão preocupada com as provas que esqueci completamente de tudo, eu quase não via a minha mãe, eu só estava com tempo para estudar, e as semanas foram se passando...
E assim se passou um mês e eu nem vi o tempo passar, já não pensava tanto no Miguel, na verdade não tinha muito tempo para isso.
Eu estava feliz, já não tinha com o que me preocupar, as provas tinham sido um sucesso, mamãe estava bem e meu irmão havia viajado para o Sul do país, ele tinha arrumado um emprego temporário lá, e como aqui em São Paulo ele estava desempregado não pensou duas vezes, é verdade que mamãe estava meio triste ao ter que se afastar do Fernando nossa família era pequena, mas muito unida, havia já duas semanas que Fernando tinha ido embora, foi bem triste a despedida, eu e mamãe choramos muito, meu irmão chorou feito uma criança, mas eu acredito que novas experiências fazem parte da vida.
Agora era só eu e mamãe, nós duas uma dando forças para a outra.
E a rotina continuava, eu já estava ficando louca, não agüentava mais toda aquela correria, eu estudava, ajudava a minha mãe em casa e além de tudo nos fins de semana trabalhava, ela sempre quis que eu só estudasse, mas nunca achei justo ela arcar com as despesas da casa sozinha, pois ela vivia apenas da sua aposentadoria ela foi aposentada por invalides, o que ela recebia não era muito, mas ajudava bastante, minha renda era pouca, mas eu também não tinha gastos, não comprava quase roupas nem sapatos, somente o necessário.
Foi em um domingo quando estava trabalhando em uma feira, que parece que a vida me pregou uma peça, precisei ficar até a hora do almoço lá coisa que eu nunca fazia, mas naquele domingo foi necessário, pois uma moça que trabalhava comigo passou mal e teve que ir embora, e eu tive que ficar para cobrir o seu serviço, eu estava lá distraída quando ouço aquela mesma voz que me arrepiava inteira me chamar.
_Nicolly, oi tudo bem?
_A não! Sem querer disse meio alto. (eu estava tremendo, e eu não tinha motivo para isso)
_O que? (ele olhou desconfiado)
_Oi!(eu disse envergonhada)
_Você disse alguma coisa que eu não entendi direito. (ainda me olhando desconfiado)
_Imagina, eu não disse nada, apenas oi. (fui o mais natural que pude)
_A tudo bem não importa, nossa faz semanas que não te vejo lá na faculdade , você sumiu e nos dias que eu te vi, parece que você estava fugindo de mim.
_ A Miguel, estava muito corrido você sabe essas semanas teve muitas provas, é assim mesmo uma correria, não tem jeito, eu não estava fugindo de ninguém! (eu estava em pânico só de pensar que ele poderia descobrir a minha criancice, pois eu sabia que era criancice)
_ A é, na verdade pareceu que o problema era eu.
Eu estava nervosa não fui tão discreta quanto pensei, eu estava me sentindo uma idiota tentando fugir dele, e mais idiota ainda inventando uma desculpa tão ruim.
Mas eu não poderia sair por baixo não era do meu perfil.
_ Ai, ai, ai, Miguel, você deve estar vendo coisas, porque eu fugiria de você não é mesmo? (me senti mal ao dizer isso, mas terminei a frase rindo.)
_ É acho que realmente eu devo estar vendo coisas. ( ele ficou sem graça)
_ Com certeza.
_ Bom Miguel está na minha hora tenho que ir para casa.
_A Nicolly a galera está indo para uma festa, vamos também?
_Não, obrigada, não tem como preciso mesmo ir para casa, minha mãe está lá sozinha.
_Liga para a sua mãe e avise-a, vai ser legal, vamos!
_ Não posso mesmo Miguel, preciso ficar um pouco com a minha mãe, só tenho o domingo para isso.
_A que pena Nicolly.
_É infelizmente tenho que ir, tchau, tchau Miguel até mais. ( na verdade eu não queria ir eu queria ficar lá com ele, meu rosto dizia claramente isso )
_Quer que eu te leve até a sua casa?
_ Não precisa eu moro a três quarteirões daqui.
_ A tudo bem então eu te acompanho.
_ Não precisa. (eu queria evitar qualquer tipo de aproximação)
_ Vamos eu te acompanho.
Ele não ia desistir assim tão fácil, e eu não o queria por perto.
Eu estava distraída, pegando minhas coisas, para poder ir embora e ele do meu lado, minha cabeça vagueava e eu pensava o tempo todo como ele mexia comigo, me sentia uma criança em um parque de diversões, era extremamente emocionante aquela sensação.
_ Nicolly eu levo sua bolsa.
Ele pegou minha bolsa sem eu ter tempo de argumentar.
Está muito pesada o que você carrega dela em?
Eu sorri para ele me perguntando como alguém pode ser tão simpático assim?
Não conseguia não gostar dele.
_Nicolly parece eu você não gosta muito de conversar não é mesmo?
_Não é isso, eu gosto de conversar sim, porque está dizendo isso?
_É que às vezes parece que eu te incomodo você fica meio que distante, sei lá talvez seja impressão.
_ É sim Miguel, impressão sua, não teria porque eu agir assim.
_É verdade, mas Nicolly fale um pouco de você então, faz um tempo que nos conhecemos, mas não sabemos nada um do outro.
_Sobre minha vida não tenho muito que dizer, é corrida e me dedico exclusivamente a minha mãe e aos meus estudos, tenho um irmão mais velho que mudou para Curitiba faz umas duas semanas e agora eu e minha mãe estamos sozinhas nesta cidade.
_E o seu pai?
_ Olha sinceramente, não gosto de falar do meu pai ele é um passado que não faço questão nenhuma de me recordar.
_ Nossa! Desculpe-me não tive a intenção.
_Eu sei... (sorri para ele, mas sem olhar diretamente nos olhos dele)
_ Me desculpe mesmo. (ele estava ainda sem graça)
Achei que o assunto terminaria ali, mas ele veio com outra bomba.
_ Você tem namorado?
Não acreditei a hora que ele perguntou isso para mim.
_Não, não tenho.
_E você?
_Não também não tenho, já tive, mas hoje não, na verdade procuro alguém que realmente possa valer à pena.
_Hum entendo, então boa sorte.
_Boa sorte?
_É boa sorte, é bom acreditar em contos de fadas, quem dera eu pudesse acreditar nisso.
_Você está me dizendo que não acredita em felicidade, nem em amor em nada disso?
_Nada me fez provar que fosse diferente, só acredito naquilo que vejo, e hoje só existe maldade, perversidade, coisas ruins aonde entra felicidade e amor em tudo isso?
_ Eu não acredito, que uma menina tão doce como você pense assim, você deve ter sofrido muito, para pensar desse jeito.
_É só a verdade!
Eu já não sabia se aquilo ela uma conversa ou uma discussão moderada.
_Não se pode generalizar as coisas dessa forma.
_Creio que posso sim...
Ficamos em silêncio por uns três minutos que me parecera uma eternidade.
_Bom aqui é minha casa, obrigada por me acompanhar. ( falei meio que sem graça pela nossa conversa desagradável)
Ele parecia inconformado com o que eu havida dito.
_Tchau, Nicolly, um bom domingo para você.
_Obrigada e uma boa festa para você.
Ele me deu um beijo na bochecha e saiu o frio na minha barriga foi inevitável..., eu estava abrindo o portão ele já havia dado uns quatro passos eu olhei para trás e ele estava andando, quando virei de novo para o portão ouço uma voz me chamando.
_Ei Nicolly...
Virei novamente ele me olhava, como aquela primeira vez na sala de aula, eu mal pude acreditar que estava vendo aquele olhar novamente.
_Sim...
_Eu vou te provar o contrario...
_ Que?
_É exatamente o que você ouviu, vou te provar o contrario... Até logo Nicolly. (ele já estava longe falava bem alto quase aos gritos , ele realmente queria que eu o ouvisse.)
Não pude acreditar em suas palavras , eu queria ver o que me aguardava, mas eu tinha medo , muito medo...

Jucele Prado